Convidem alguém com ansiedade severa a descrever o que é este transtorno e a primeira coisa que lhe vai surgir na mente vai ser algo negativo. E a verdade é que… não é bom. A sensação de estar no ponto mais alto de uma montanha russa sem cinto de segurança e de repente ver a carruagem começar a descer a velocidade máxima é, sem dúvida, um dos sentimentos mais assustadores. Imaginem, agora, que experienciam esta sensação sempre que convivem com outras pessoas. Conseguem imaginar-se a subir a montanha russa?
Ugh, ansiedade
A ansiedade é frequentemente vista como algo negativo, e em muitos casos a palavra em si faz com que as pessoas tenham arrepios. Mas, e se a ansiedade pudesse proteger-nos? Vejam este pequeno exemplo. Quando temos de atravessar uma passadeira, fazemos aquilo que nos ensinaram quando éramos pequenos: olhar para os dois lados da estrada. E porque é que fazemos isso? O que está por detrás desta ação rotineira? O medo de nos magoarmos. Não só temos medo que isto aconteça, como o simples pensamento de isto acontecer nos assusta. É por isso que, mesmo em situações onde temos fatores externos de proteção – como semáforos -, garantimos que é seguro atravessar a estrada olhando para os dois lados. Isto é a ansiedade a tentar proteger-nos.
Conhecem a expressão “Tudo em moderação é bom”? Este é um exemplo perfeito que comprova a veracidade desta frase. Quando os níveis de ansiedade estão baixos ou moderados, a ansiedade tem um efeito protetor. Quando falamos em transtornos de ansiedade, os níveis de que falamos são altos e disruptivos. E isto é algo com que nos devemos preocupar.
O que é a ansiedade social?
A ansiedade social é o terceiro maior problema de saúde mental do Mundo. Pode ser caracterizado como um medo marcado e persistente de uma ou mais interações sociais. O sentimento de ansiedade também pode ser experienciado em situações em que o indivíduo tem de realizar uma tarefa à frente de pessoas que ele não conhece ou em que se sente avaliado.
Juntamente com a maior parte dos transtornos de ansiedade, uma pessoa com ansiedade social reconhece e caracteriza o seu medo como excessivo ou irracional. No entanto, a falta de controlo que está subjacente a esta doença vai levar a mudanças em muitas áreas da sua vida (escola/trabalho, relações com outros, etc.). O medo de ser humilhado ou envergonhado explica o porquê de situações sociais onde o sujeito pode ser avaliado serem evitadas ou experienciadas com altos níveis de ansiedade e desconforto.
Pessoas com ansiedade social acreditam frequentemente que os outros podem facilmente “ler a sua cara” e perceber que estão ansiosos. Por exemplo, eles podem recear que os outros consigam perceber que o seu estômago se está a contorcer de medo, ou que a sua boca está bastante seca. Tudo isto soma-se ao medo de se humilharem, e chega a uma altura em que isto é tudo em que conseguem pensar.
Espelho negativo
Imaginem saírem com os vossos amigos. Começaram a preparar-se uma hora antes de sair de casa, e gostam do resultado final. No entanto, há um acessório que vos diferencia dos restantes: trazem sempre um espelho em frente ao vosso rosto que vos mostra apenas uma imagem distorcida da vossa pessoa. Esta é uma das peculiaridades deste transtorno – indivíduos com ansiedade social carregam consigo crenças negativas acerca deles mesmos. Isto significa ter pensamentos de auto-depreciação, assumindo que são inaceitáveis para os outros, e frequentemente criticando o seu comportamento social. Imaginem como seria viver com isto. Estar numa festa com os vossos melhores amigos e não ser capaz de pensar noutra coisa que não o facto de não se saberem divertir, em como os outros vão deixar de ser vossos amigos porque as vossas aptidões sociais são vergonhosas e isso não é “fixe”.
“Se calhar são só tímidos”
Ansiedade social não é timidez, nem sinónimo de introversão. Se este fosse um artigo em papel, a primeira frase estaria sublinhada com mais do que uma cor. A introversão é um traço de personalidade de uma pessoa. A ansiedade social é um transtorno psicológico. É de pensar que esta distinção seria feita de forma natural, mas a sociedade em que vivemos teima em ler a ansiedade social como um exemplo de timidez. E embora possam pensar que “não é grande coisa”, a verdade é que a falta de distinção entre estas duas variantes aumenta os níveis de ansiedade de alguém com esse diagnóstico.
Ser tímido significa ter controlo sobre os nossos pensamentos e crenças. Ter ansiedade social significa ser controlado por algo que é suposto dominarmos (a nossa mente). Perceber isto é um dos passos mais importantes para a recuperação.
O que podemos fazer enquanto amigos?
Na linha do que foi escrito no ponto anterior, perceber este transtorno é o primeiro passo para ajudar alguém com este diagnóstico. Não gozar com eles, não diminuir os seus medos e sentimentos, e não os fazer sentir mal ou inferiores por terem ansiedade social são também pontos importantes. Ao invés, é importante lembrá-los que são seres humanos e que podem controlar as suas ações e pensamentos. Falar com eles e ajudá-los a perceber que situações podem servir de gatilhos à sua ansiedade pode ser uma grande ajuda, assim como ajudá-los a desenvolver estratégias para combater os sintomas deste transtorno. Pessoas que têm ansiedade social podem pensar que estão a julgados constantemente, e é importante relembrá-los que isso não é verdade. Enquanto amigos, é importante ajudar a que estes indivíduos substituam os óculos negativos que têm vindo a usar por umas lentes mais positivas. Acima de tudo, é importante transmitir que existe uma forma de vencer a batalha que estão a travar.
Será que tenho ansiedade social?
Muitas pessoas não gostam de falar em público, e quando lhes é pedido que o façam, experienciam sintomas como boca seca, ou mãos a tremer. No entanto, quando colocadas na situação, conseguem pôr em prática a tarefa a que se propuseram. É como se o cérebro delas arranjasse uma maneira de explicar a todo o corpo que tem de pôr estes sentimentos de lado e falar para o público.
A ansiedade social pode refletir-se no medo de estar rodeado por pessoas, de estar na escola ou em situações em que poderá haver algum tipo de avaliação. Pode, ainda, refletir-se no pensamento constante como “Nunca vou ser o que esperam de mim / Eles pensam que sou um falhanço / Não querem ser meus amigos”.
Se sentem que podem ter ansiedade social, falem com alguém. Com um psicólogo, um amigo, um familiar. Não tenham medo de falar – a batalha que enfrentam todos os dias mostra que são mais fortes do que pensam. Há sempre uma forma de combater os nossos medos, prometo. E falar tira-lhes a força.
Se estás a experienciar sintomas de ansiedade, poderás entrar em contacto connosco através do formulário de contacto ou aceder ao site da Ordem dos Psicólogos Portugueses onde encontrarás mais informações sobre como procurar ajuda.